14.6.14

marcio

Marcio Maia por  mx.aol.com 

11:56 (Há 8 horas)
para mimbetmaiadeborah_de_sou.
Familia,

Não é o momento de brigar. Como todos sabem, a minha vinda para a Suíça teve como motivo o Samuel. Desde que recebi a notícia da Silvia, ainda no Rio em Maio de 2010, alguma coisa mudou na maneira como eu enxergo a vida. Em muitos pontos eu posso ainda ser o mesmo, em outros eu sou completamente diferente. Eu tenho a noção de que ainda ha muito o que melhorar, e muito o que crescer e evoluir como pessoa. Eu sei disso. A mudança pessoal e gradativa e quando termina, a gente realmente muda. Estou em construção.

Eu nunca tinha parado e refletido, traçando uma tinha temporal da minha saída do Brasil. Eu nunca quis morar em outro lugar que não fosse a minha cidade, mas o momento veio e a vontade de começar uma família foi mais forte. Silvia até aquele momento tinha me demonstrado que fazia de tudo para que aquela relação desse certo. Eu tive a coragem de ir, mas esqueci de deixar no Rio, o Marcio. Eu fui um misto de contradições e guerras particulares pessoais diárias entre meus desejos. Agora não importa mais os defeitos do outro, não tenho a mínima vontade de apontar erros. Eu embarquei a primeira vez em janeiro e fiquei três meses aqui em Berna. O inverno foi sinistro e eu não me via naquele país, vivendo ali. Voltamos para o Rio de Janeiro em março. No dia 11 de maio descubro que seria pai. Eu tinha acabado de sair de dois anos de namoro com a Marina, aquela que até aquele ano, tinha sido a que eu mais amei. Vocês me conhecem, eu sou emotivo e não sei levar a vida de outra maneira, senão a de seguir meus sentimentos ao pé da letra. Esse processo é meio conturbado, tem altos e baixos, mas vale a pena.

O casamento não funcionou porque não nos amávamos, eu não a amava. Embora tenha logo ajudado em casa com afazeres e contas, parecia que eu ainda não era o bastante. Por minha culpa, minha tão grande culpa, de certa forma abandonei minha família, como Silvia mesmo diz, quando dormi com outra mulher. Silvia decidiu que deveríamos continuar e tentar de novo. Ela nunca de verdade me perdoou, e aquilo com o tempo era uma bomba relógio. O episódio da fuga logo depois do aniversário do Samuel e eu ficando no Rio. Depois o retorno a Berna para o nascimento de Benjamin. Percebemos mais tarde que embora houvesse amor, os dois não funcionavam juntos. Vamos deixar bem claro que se eu não tivesse dormido com outra mulher, o casamento também não existira hoje em dia, mas teria sido correto uma separação honrada. Porque quando falta amor, ele não dura muito.

Daniela é uma pessoa boa, é alemã, mas é uma boa pessoa. Quando sai de casa ficamos juntos, eu passei um tempo na Manuela, uma amiga suíça, e apenas amiga. Fiquei também um tempo na casa do Christian, que foi meu chefe no restaurante e me deu esse emprego no Hotel. Encontrei esse apartamento, 500 metros de distancia da Silvia e das crianças. O problema é que ele tem três quartos e custava 1900 francos. As pressas chamei duas pessoas, um português e uma brasileira. Depois descubro que a mulher era puta e que queria trabalhar em casa, apesar do namorado armário, coloquei ela pra fora e chamei um rapaz dominicano que era ou é amigo do português. O tempo passa e percebo que são viciados e que aos poucos o apt tornou-se uma boca de fumo. Eu não durmo mais em casa, tem quase dois meses. O problema segue porque tenho que encontrar alguém para o meu lugar para poder sair, porque meu nome esta no contrato, no seguro, no deposito. Enfim, o clima não ficou muito bom quando disse para eles que eu iria embora, e ali não era ambiente pra mim ou ambiente para meus filhos. Fazer inimizade com os  bandidos da cidade é só uma pitada de drama nessa historia. Vejo que é pura inveja e que ja tiveram problemas com a cidade toda, pessoas baixas sem moral, regras ou caráter.

Em fevereiro, em meio a esse turbilhão todo, saída de casa, começando de novo do zero, tocando a vida... conheci a Amanda. Talvez eu sonhava com alguém com a minha mentalidade brasileira. Poder falar meu idioma em casa, alguém com o modo de pensar da gente, com nosso jeito de ser. Eu me cuido e quase um ano passei com a Daniela entre amante e namorada sem risco de ser pai. Encurtando a historia, aconteceu agora, e novamente o filme se repete na minha cabeça. Eu não perdi 4 anos da minha vida, mas também não fui para onde eu queria. Eu vejo agora o destino olhando de novo pra mim e me testando. Não sei o que fazer exatamente. Uma parte diz vai la e tenta, a outra pergunta se eu não aprendi nada com o passado. Os momentos puramente mágicos são sempre os que estou com Sam e Ben. A Amanda é uma menina de ouro, é jovem. Isso não é defeito porque todos nós ja tivemos 20 anos. Não posso cobrar ninguém por não ter experiência ou não ter vivido o que ja vivemos. Tudo o que eu não quero é machucar ela, dar apoio, não correr dos problemas como me ensinaram. Mas também devo admitir que o medo de novamente me entregar e viver uma grande decepção... não me deixa dormir a noite. Não quero ser pai biológico de vários e ausente em todos os lares. Também aprendi muita coisa nesses anos. 

Aprendi que não tenho que me preocupar com comentários que não vão mudar minha vida, aprendi que as vezes tudo o que você pode dizer é: foda-se. Aprendi que se tu amas duas mulheres, decida-se pela segunda, porque se realmente amasse a primeira, você não teria a segunda opção. Percebi aqui fora que nada supera o amor de mãe. Aprendi que saudade dói, na verdade isso eu ja sabia.  Percebi que eu ja disse eu te amo muitas vezes, sem ser verdade. Vi de perto o que acontece quando brincamos com os sentimentos dos outros. Aprendi que é importante aprender o idioma e saber o que os outros estão falando. Aprendi que todos precisamos de alguém, que possa lidar com nossos piores lados. Aprendi que se quisesse ser realmente alguém sem problemas, deverias seguir seu cérebro e não seu coração. Aprendi que só peixe morto segue a maré. Aprendi que quem tem luz própria incomoda quem esta no escuro. Aprendi a conviver com racismo, preconceito e injustiça. Aprendi a nunca implorar carinho, atenção ou amor. Que segurança financeira é mais importante que amor para a maioria das mulheres. Aprendi que tem algumas loucuras na vida, que a gente so faz com muita maturidade.

O momento e difícil mas tudo vai melhorar. Estou a caminho de outro trabalho que vai pagar mais. Tenho muitas dividas, mas isso com um emprego legal, resolve-se em alguns meses. Os inimigos e os invejosos não podem quebrar meu espirito, talvez um nariz aqui ou braço ali mas seguirei em frente. Desde que não estou mais com Silvia sinto mais a falta de vocês mas sei que não podem fazer muito alem de escutar e dar atenção. Isso já é muito pra mim. As vezes apenas dividir o que acontece me deixa mais confortável.


...
Por favor nao respondam essa carta, porque não tenho mais computador e a Amanda pode ler, o único laptop é o dela.

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